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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Revisitando



Eram cinco da tarde. O chapéu negro da pausa e da espera ainda estava lá. Havia esperado o dia todo na greta, encarando apenas o chapéu escuro enquanto o turbilhão de segundos  zuniam em meus ouvidos, contradizendo a espera da espera. O tempo não ia passar.
Arremessava o corpo contra a cadeira enquanto o gelo se derretia vagarosamente no copo. O calor só subia em mim, o gelo era indiferente ao meu estado.
Tudo estava em seu devido lugar, até o maldito assoalho recém-polido que fazia as vezes de espelho mostrando a face cinza da espera. As paredes, a sala e o teto faziam coro com o chapéu preto: ele não está aqui. Nem vai estar amanhã ás cinco.
Todas as imagens, todas as escolhas, todas as estimas passavam sucessivamente, repetidamente das minhas retinas para as entranhas, desaguavam em pensamentos mórbidos e escuros no porão da minha casa.
Sou um espírito fanfarrão, ao menos creio, mas há dias em que me torno sombra escura na penumbra da ausência...Enquanto o relógio zomba do meu ânimo.
Eram cinco da tarde no decorrer da preguiça do tempo eu gritava ansiosa aos ponteiros que por favor corressem, mas os ponteiros não ouvem. Ponteiros apontam inevitavelmente pra algum lugar. Esses me apontavam o derradeiro suspiro de lástima, pra recomeçar no segundo restante. As cinco da tarde.
Havia pensado em xingar, em dizer-lhe algo irritante, com certeza diria, ou talvez não. Mas aquele chapéu, sinal de que uma cabeça vazia vagava e sorria solta pelo espaço infinito de tempo que algum deus da tarde lhe concedera, em plenas cinco horas de sofrimento...
Limitei-me a continuar respirando, minhas unhas rasgavam meus pensamentos como seda e o vazio dava seus tiros secos em minha solidão.Sinal de que, ele jamais voltaria
Nem mesmo pelo chapéu...

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