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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Alabá


 

Disseram não ser de bom tom começar um verso com cai a noite
Mas nenhuma noite é igual do lado de cá dos meus versos
Ela cai em meu colo como um soneto soprado ao som da primeira primavera do menino Deus
Outras vezes ela sobe, pirraça e escancara certa nudez nos trópicos de câncer
Dona noite em sua cauda púrpura
Esparge o vento de Aruanda
Em meu cais, emboto os olhos de olhar o infinito
Procurando os mistérios das taças africanas
Para adentrar em seu encanto místico, peço a lua que vai subindo
Tão grávida que nem sei...
Peço a ela sua licença
É Olorum remando livre na antítese de um problema
Meu gênero humano se desfalece
Em minha pupila é lua cheia,
O congo, o que é do congo, o Caminheiro celestial e o pai nagô na colina faceira da cachoeira
Na elipse frondosa dos cavaleiros, em angola e na vida que penso ser minha
O conchavo dos humildes reis africanos de nosso Senhor Jesus Cristo,
Com as graças de Deus




domingo, 7 de agosto de 2011

Consentimento


 




Eu cria
Distante de minhas visões equivocadas
Que me apadrinhei de minhas célebres divagações sobre mim mesma
Fui um pai sóbrio e justo, minha cria lambia os dedos sempre que nos alimentávamos da sombra
Fui um pai herói, assombrosamente  sem parcimônia
Distingui na multidão as metades que de mim escarneciam
Cacei-as, assei-as, vomitei-as
E no auge de uma celebração inexplicável ante aos espúrios afetos que me restaram, me lembrei: são três horas nada houve e me ouve.
Fazer-se compreender é um duelo infindo entre a loucura e o anelo
E o juiz, invariavelmente gênio indomável de si para si, implacável e assustador, ao ver minhas lágrimas não se compadece comigo
O juiz é sempre justo, dizem , em suas torturas sagazes, o juiz é sempre um pai, atento e macho
Flagrado a devorar seus filhos