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terça-feira, 30 de março de 2010

co (r) po vaz io



Certa tarde o calor e o enfado me perguntaram: pra que nascer?
Eu: por que isso logo no dia de sebo de sono no olho e louças sujas na pia?
O suor requentando o lençol, a pele morna
Impaciência.
Eu escrevo porque a vida é vazia
Cheia dessas pequenas atribuições nervosas e objetos descartáveis
Sorriso de vadia, canalha na esquina fumando cigarrinho
Nascer é como acordar? Não, tédio
Nascer é como morrer
Acordar é como dormir
Se escrevo é pra ter sorte
Para lembrar
Bebo pra esquecer, fumo pra arrebentar as bolhas dos átomos e me espalhar pelo ar do sangue, flutuar
Lembro das mágoas que escrevi bebendo
Esquecendo e recordando
A vista embaçada com a vida embolada
Embolia
A palavra é a vida que escrevo em meu silencio aterrador
Numa tarde quente, numa vagina fria.




quinta-feira, 18 de março de 2010

Ligação




É como se meu ultimo átomo de juízo
Despencasse por uma ribanceira tresloucadamente
Deslocando as cascas velhas das células, fazendo um escarcéu de pequenas e infinitas explosões inexplicáveis
Apenas porque é; independentemente
Não é a formação de um novo mundo,nem o apocalipse do velho mas a convulsão do mesmo
Perante o limiar de sua loucura, na temível definição de terremoto
É minha loucura se lembrando que sou eu
E amanhece sempre e incondicionalmente para a mesma voz do outro lado da pessoa
É tudo tão pra sempre estar assim, excede as fronteiras de qualquer coisa justa e digna contudo corriqueira
E dura só um segundo o meu colóquio de estrela...

domingo, 14 de março de 2010

mero



Quando um vulcão invade a terra
Não o faz por malignidade
Pois o que há na terra
É o que se revolve junto ao magma
E não sua superfície
O grito da terra vertido em lava
Leva o relógio e o tempo para onde eles pertencem
Zera o infinito
É findo o homem
A mulher e o sal
Quando a serpente se arrasta
na terra , paz na terra
Sucumbe ante a natureza e seu vigor
Quebram-se as leis e os contratos
Na réstia nada é só o que resta
De tudo que fomos um dia

terça-feira, 2 de março de 2010

Passarinho

 



Existe uma mistura de aperto no peito e paz de espírito que
A gente só sente quando ouve uma musica
Mas acredito que existam várias formas de se ouvir, assim como de ver
Às vezes a música vem em formas surpreendentemente visíveis, quase palpáveis
Ainda que distantes
Como o doce que se enxerga pela vitrine, fazendo a mão se frustrar
É doce saborear a sensação de querer e aventurar
Mas há uma pausa imposta pela impossibilidade
Ainda assim a musica prossegue
Basta parar um pouco e lá de relance pode-se ouvi-la sinuosa
Reticente
Tão reticente e tão clara!
Um chegar em casa completo, um aterramento
Uma antiguidade quase não percebida
Uma insegurança de exagerar
A música ignora os ouvidos
Mas quem tem ouvido parar ouvir, ouve
Leve, imponente, clara... Inusitada
Contudo familiar