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sábado, 31 de dezembro de 2011

No futuro que inventei


No futuro que inventei as flores não se machucam

Uma vez desabrochadas, levitam e se perdem no seio de Deus

A terra é reverenciada no futuro próximo de meu sonho

A morte velha amiga, uma sábia que a nada leva precoce

Transfere, multiplica

A dor roda, vive, dá frutos

Os homens, árvores

Mulheres, pássaros

O olho não vê as incertezas no horizonte longilíneo

Se fecha, sonha

Se abre, alegra

No futuro que inventei os sábios serão ouvintes,

E todo silêncio, música

Ouvida a canção da primavera bem vinda, suportaremos todo inverno

No calor das almas onde todos serão irmãos

De porque nasci com cabelos desgrenhados

                                                                  Irmãs lendo - Iman Maleki





Sempre me ponho a gritar na janela de qualquer coisa em movimento

Não sei se era a vida ou eu quem fazia vento

Não tive tempo de pentear o cabelo, mas penetrei nos mistérios do absurdo sem contudo achar resposta

Não tive tempo de seguir a corte, me diluí nos cantos do mundo

Cabelo de grama no chão da noite. Pingando estrela e passarinho.

Eis o absurdo que não posso suportar

Quando vou absorta por entre as nuvens da manhã, descobrindo que se fez tarde

A capa de minha tenda é feita de palavra arrependida, de cabeça rolando em brasa viva, de meninas abraçadas.

Decifrando cada degrau dos obstáculos que se interpoem nesse caminho, percebo: nunca pulei um carnaval, mas vivi.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Intenso (cio) nal



Meu deus uma cobra!
Sibilada, arfada,
Rasteja  (...)
Pus amarela, por ela
Ex-pus.

domingo, 16 de outubro de 2011

meu querido Guardião

Desde que nos falamos pela ultima vez um ritmo lancinante interrompeu-me a memória
Passei a cuspir fogo só de lembrar que em meu tempo, como é próprio dos dragões, cheguei ao máximo da exasperação ao notar que minhas garras ficaram-se em minha própria pele bestial que nada mais era que um trapo do meu passado
Vi-me nu, despedaçado, em conflito com o nada. Só.
Apresentaram-me os confins umbralinos e nele só havia espelhos de horror
Espetáculo espúrio .Tive náusea em minha dor horripilante. Amaldiçoei as estrelas. Vermes caminharam sobre meu corpo, vi minhas vestes se esvaziarem. Reduzi-me a pó de ossatura
Ostentei o quanto pude a bandeira do vitupério. Mas estava só e fui me calando
Não estavam lá para me incriminar minhas mulheres paridas, meus comparsas, nem os bêbados que enviei a calabouços. Onde estariam todos?
Eu era o calabouço, e meu humilde farrapo de febre o único pão a alimentar minha carne
Sob o véu do terror expuseste minha sina, ó terrível consciência...
Hoje sinto diferente, a dor me faz sorrir pois não sou mais aquele desprezível inseto acumulador de chagas, meu caminhar torto se refere à curva evolutiva e não à insurreição
Fruto amargo ingerido em penitência  provei até o último caroço, sou rei!
Volto-me agora sabedor de infindas coisas à superfície terrena, um humilde servo da lei
Quem mais poderia servi-la senão eu que conheci suas mais terríveis cláusulas?
Quem mais aplicaria a mão pesada de deus nas faces inescrupulosas e vadias?
Eu, que o vi se transformar num verme me ensinando que não sou coisa alguma
Na dor, no horror a justiça se revela e ai daqueles que não sabem o porquê do sofrimento
A lei elege seus culpados.  Eu os executo, pois sei que não há fim. 


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Monólogo de uma vela n° 4








"Sem o coração a vela se torna um esdrúxulo exemplar do princípio da combustão. Inútil e passageiro."

Quando o coração sente a presença divina, todo corpo responde, como uma vela acesa se consumindo. Pura luz invisível alterando a matéria.
É impossível ver o divino, vemos o fogo e também vemos e sentimos nós mesmos, revelados por sua presença. Mas o fogo não é deus, o fogo não é a luz em si. Portanto suas diversas chamadas de deus nada mais são do que o esgotamento da imaginação. Na presença da luz só se revela a ilusão da forma, é preciso ir além.

Definindo um deus, expurgamos nossos demônios e acabamos por adorar a nós mesmos enquanto formas imperfeitas e inacabadas, nisso consiste a idolatria. Porque nada há na presença divina  que necessite de nosso amparo, de nossa coordenação.
A magia existe para nos educar e não para ensinar O Divino como agir e o que fazer.

A religião é o ápice da soberba. Não há e jamais haverá intermediador entre o divino e o homem porque a luz penetra em todas as esferas congruentes à sua emanação. Porque a luz já está no homem.
Quem diz ao Sol: podes brilhar ou não podes brilhar? 
Tampouco podemos presentear os anjos, eles é que nos presenteiam trazendo-nos a harmonia celestial, para nos lembrar do que somos. 
Não podemos alimentar a luz, nós não podemos retê-la, é ela que nos alimenta porque sua fonte é incorruptível e insondável.

A luz é tão ampla que se torna uma metáfora a iluminar o que acreditamos não saber mas sabemos.
Para ser luz, porém, é preciso somente uma atitude: abrir a janela. Temos janelas por dentro e por fora. Janelas de olhos, de ignorância, de medo, janela de orgulho e janelas de entendimento. Janelas de todos os elementos, prontas a serem abertas (pois quase sempre estão fechadas) janelas prontas a reagirem quimicamente à presença dos raios divinos.
Amar abre essas janelas de dentro para fora. Você pode pensar que abrir-se o torna desprotegido. É verdade, você pode se machucar mas somente se desrespeitar seu próprio ritmo, ou se permitir que outros o façam por você. Nossas janelas possuem apenas uma chave: o amor próprio.
Lembre-se: luz nenhuma fere, olhos é que se desacostumam a ver.

Amor é integração das luzes. Muitas luzes existem, luzes luzindo luzes, se reformando,se desdobrando, se eterizando e se astralizando, mas somente uma luz é a fonte de todas essas...

A verdade é que sem essa luz, todas as demais se apagam, e pouco importa o nome que lhe é dado, pois seu verdadeiro nome é secreto e só a própria luz sabe. Muitos a chamam de sol, mas o sol é somente mais uma vela nos ensinando que há uma luz maior, que é o centro de tudo e que devemos também ser pequenos sóis, revelando a existência de novos centros, de novas essências, a saber, O divino, que é sempre maior do que a maior grandeza um dia mensurada.



sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mediunidade Apará




Quantas vezes você chorou sem saber porque chorava, ou chorando quantitativamente além de suas próprias lágrimas? Lembro de minha adolescência; dos dias, tardes e noites sofrendo um sofrimento tão grande que era impressionante caber dentro de um não tão grande corpo e quarto. É fato, você também sofre. Você também tem pensamentos negativos e emoções desconfortáveis. Mas é justamente isso que atrai aqueles que estão espiritualmente nisso aprisionados. Da mesma forma que um jovem pobre, marginalizado, que acaba entrando no mundo do crime, vai fazendo outras pessoas sofrerem, mesmo que esse não seja o seu principal objetivo. Os espíritos sofredores nos fazem sentir na carne o que eles sentem. Nós, os médiuns que absorvem as energias alheias e têm a capacidade de incorporar suas características. Quantas supostas depressões não são sintomas de pura mediunidade; quantos obstáculos e bloqueios na vida não passam de retenção do que não nos cabe... Muitos andam por aí buscando solução para suas dores e não encontram, porque não compreendem a sua natureza, a necessidade de conhecer e ter controle sobre sua mediunidade. A capacidade de sentir o que o outro sente é humana, e isso se transforma em mais admirável humanidade quando utilizamos para fazer pelo outro o que ele ainda não sabe fazer sozinho. Uma mãe passarinho coloca na boca dos filhotes a comida mastigada, e é isso que faz um médium ao esclarecer os irmãos desencarnados. Ao sentir o que ele sente, pode ensiná-lo sobre sua nova condição – desencarnado – esclarecer como se libertar do que ainda o prende à consciência de um corpo que não mais existe, que não mais precisa se apegar ao sofrimento que pode acabar a qualquer instante, dependendo apenas de sua consciência. O cúmulo da oportunidade de desenvolver a compreensão é a mediunidade do apará. Aquele que sente pode fazer muito mais por aqueles que são sentidos, porque se consegue, dentre tantas emoções, sentimentos e sensações, sentir amor pelo irmão que se ressente, o poder de cura se manifesta espiritualmente, porque já se concretizou fisicamente.

Uma médium do Templo Aleso do Amanhecer - Aracaju-SE

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Das transas em situações inesperadas


Como uma barata em mutação errática
La vai a cucaracha de perna caótica
Em sua mochila a lei da matemática
Numa construção de proporção robótica
Sistema rei nervoso de acesso simpático
Queda de cachoeira, asa quilométrica
Sorriso de menino em fuga dramática
No meio de um pomar com a maçã sintética
Feito assassino alcançando a porta
Correndo vai menino na exposição daltônica
Sujando o varal e seus lençóis simbólicos
Nas folhas do jornal de letras assimétricas
Entre a convivência de paixões fantásticas
Entre as aparências e as lições lacônicas
Silente, indulgente proporções neutrônicas
Típica libido de espasmos vulcânicos
Tango argentino fumaça e aspa arsênica
Espiral conduzindo pela mata atlântica
Luzente, fulgurante, sexo de estudante
Acende o cigarro apaga o sol
Flertando com a lua
Gozando jasmim
Deitando no chão e sorrindo alecrim

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Alabá


 

Disseram não ser de bom tom começar um verso com cai a noite
Mas nenhuma noite é igual do lado de cá dos meus versos
Ela cai em meu colo como um soneto soprado ao som da primeira primavera do menino Deus
Outras vezes ela sobe, pirraça e escancara certa nudez nos trópicos de câncer
Dona noite em sua cauda púrpura
Esparge o vento de Aruanda
Em meu cais, emboto os olhos de olhar o infinito
Procurando os mistérios das taças africanas
Para adentrar em seu encanto místico, peço a lua que vai subindo
Tão grávida que nem sei...
Peço a ela sua licença
É Olorum remando livre na antítese de um problema
Meu gênero humano se desfalece
Em minha pupila é lua cheia,
O congo, o que é do congo, o Caminheiro celestial e o pai nagô na colina faceira da cachoeira
Na elipse frondosa dos cavaleiros, em angola e na vida que penso ser minha
O conchavo dos humildes reis africanos de nosso Senhor Jesus Cristo,
Com as graças de Deus




domingo, 7 de agosto de 2011

Consentimento


 




Eu cria
Distante de minhas visões equivocadas
Que me apadrinhei de minhas célebres divagações sobre mim mesma
Fui um pai sóbrio e justo, minha cria lambia os dedos sempre que nos alimentávamos da sombra
Fui um pai herói, assombrosamente  sem parcimônia
Distingui na multidão as metades que de mim escarneciam
Cacei-as, assei-as, vomitei-as
E no auge de uma celebração inexplicável ante aos espúrios afetos que me restaram, me lembrei: são três horas nada houve e me ouve.
Fazer-se compreender é um duelo infindo entre a loucura e o anelo
E o juiz, invariavelmente gênio indomável de si para si, implacável e assustador, ao ver minhas lágrimas não se compadece comigo
O juiz é sempre justo, dizem , em suas torturas sagazes, o juiz é sempre um pai, atento e macho
Flagrado a devorar seus filhos

terça-feira, 26 de julho de 2011

Desencantamento para um miserável








Uma vez conheci um fidalgo, tinha cara de senil o vigarista
A oleosidade de sua pele não nega os ascos e desprazeres de que foi feito e de onde provém. Feio, intruso, usurpador e narigudo. Não foi parido, chacais o rejeitaram e ele veio para o mundo, moribundo e sem asas.
Pensa que se safa. E como pensa, acredita que se faz acreditado, acredita ser senhor de si, acredita que acreditando em que acredita se fará crido, credo. Todas as damas de sua corte se riem dele pelas costas. Pobre infame animalesco desdito e louco; da loucura de Nabucodonosor padece.
Sufocado em penúrias mal se olha no espelho, sua vista escurecida mal alcança sua débil e pouco viril silhueta.
Amigo de coiotes e urubus comerá o que esses comem, num ato de canibalismo roerá a própria carne endurecida.Tão breve quanto uma sílaba, hei de ver sua ruína.