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domingo, 30 de dezembro de 2012

Que entenderá





Para um lugar onde os extremos sejam belos

Desde que leves de leve meu soluço a sós

Flor do campo que a liberdade chamou de sua e pra sempre foi

A boa vinda na retina, fantasia. Em bosque encontra-se da cabeça aos pés...

Negras ondulações de Iracema abençoam  e trovejam riscos enluarados, desejos bêbados jazem em  hipotermia reversa

Onde Imaginável riso acolhe a madrugada furtiva

Lança-se mel em rotundo anel e a voz saúda breve o fio

Tuas mãos, meus lábios, somos um.

domingo, 7 de outubro de 2012

De ser sociativo

                                        Lunático, Jeremy Geddens http://lounge.obviousmag.org/lunatico/2012/05/as-pinturas-de-jeremy-geddes.html


Eu ia falar, mas você rumou pro absurdo
Naufragamos no há de ser.
Das bolhas de oceano em minhas narinas, do vazio dentro do infinito se abraçando, lho revelo.
O mar de ar, novelador controverso, não conta o verso.
Que é feito do mar de amar infinito?  Aceso explode.
Qual narrar a junção do hidrogênio com o oxigênio depois.
Quem tem água não quer explicação.
Se as moléculas se soubessem,  sujeitar-se-iam não.
Não há uma meta-vida, é só se der ceder.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Ericksonianismo breve






 Joaninha visitou minha mão, entre o avanço veloz da bicicleta e o chão.
“Joaninhas não entendem de amanhãs” pensei “pode ser que ela voe antes que eu possa fotografar” e fechei a mão.
Curiosamente meu mundo não mudou, mas eu deixei de sentir a joaninha porque passei a pensar só em mim. A estrada impassível não me julgava, nem a joaninha.
Deixei de viver na proporção que passei a me preocupar com isso. Foi quando abri mão de fechar a mão e escolhi deixar a vida me escolher. Surpreendentemente minha amiguinha ficou ali comigo despreocupadamente por longos minutos. Ate da futilidade desfrutamos, pois ela se deixou fotografar livremente.
A joaninha foi tolerante comigo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Auto da barca do devir








Aquilo não fora um abraço
Pedidos de socorro não o são
Dois animais deitados no escuro quando se trombam, bradam e confundem os polos
No escuro íntimo, não há espelho que entregue ao cão sua aparência insensata
Não são abraços, não são mãos dadas, não é amor. Repito como um grito. Entendo a agonia de minhas mãos, agonias táteis não se penhoram.
É um pedido de socorro da longínqua nau da solitude que naufragou no mar da ignorância
Aqueles a se abraçarem não são sobreviventes, são apenas fantasmas sem corpos, cães de caça que se esqueceram que o segredo de tudo é ir
A morte há que ser deglutida, assim como a vida, em suas mínimas partes. Nela é preciso se lançar pois nada existe sem entrega
Que cada corpo pese o que é preciso dar para receber ( sabemos intimamente que sim )
Na vida e na morte.
Pois alma e ânsia quando pedem , há que ir.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Quando coiso


É Minha forma de manter coragem que me engana
Trabalho com recompensas chantageando a mim
Engordando porcos, desperdiçando pérolas.
Desgosto é naufragar sem mãos de Cristo, noto que sempre dera...
Em minha fábula desescrita, o que não gira nega em torno.
Por onde sai o espirito quando dorme o corpo?
Nas narinas inexoráveis da vida, depois nem resto.

sábado, 21 de julho de 2012

Desilusão a menos



O amor é egoísmo.
Porque o amor não é amor, repare bem, o amor não é amor.
O amor é o bolor que deu na comida velha, o amor é o pão de ontem. Se perde na mesa do rico enquanto muitos padecem sem bocados.
O amor é sofredor, sim. Mesmo egoísta tem que dar conta de uma enorme lista de desejos que dele não são sãos.
Desejo que não te quero se não for do meu jeito de amar
Desejo de não correr atrás se não me telefona.
É se e si o tempo todo porque o amor é pra dentro.Fora são só as anamneses do corpo que olha pelo amor, que toca, que geme, que diz que é eterno. O amor não tem voz. O amor é a estapafurdia ilusão de ser aceito como és, sou, é. Sendo que quem assim crê mal sabe a si aceitar.
Ommm amor é mântrico : Se-me-serve-sim-se-não-me-serve -sumo.
O amor é egoísta porque é aprendido e comprado, você paga parcelado mas consome à vista. Pegue o amor e retire suavemente o plástico, coloque-o na prateleira pra degelar e pronto! Já vem calçado, vestido e com lacinho na cabeça. Tudo incluso. Como o amor é lindo, você ainda não adquiriu o seu???
O amor é um peso na consciência, pois vivemos queimando suas asas.
O amor é mentiroso e hipócrita, pois faz as pessoas prometerem o que não têm.
Para darem o que lhes sobra:  Orgulho, mentira, traição, desequilíbrio, perda de intimidade.
O amor é um produto da globo.
O amor é escravidão porque ninguém se liberta do que nunca abdicou
O amor não presta, porque o amor não existe.O que existe é o coração.O amor não é flor, é o dedo que se espetou no espinho.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

07:29 a.m


Era tarde quando vi meu coração virar borboleta. De asas breves partiu no ar insólito da esperança - Outro inseto perigoso – Eu carregava no peito uma nau tumultuosa a quem chamavam de criança. Na lua cheia eu vi que ele vinha em minha direção, mas empertigou-se numa assustadora forma de inseto. 
Eu ia gritar quando, de repente, duas asas transbordaram de suas costas partidas de passado. Aí vi que meu coração era um negro cansado, surrado, açoitado, coitado. Mas isso acabou, quedou agora o medo no espaço cheio de nada que ele deixou. 
Teve sua alforria, quer dizer, restou um segredo e o aceno de mão com cinco dedos de porquês não respondidos. Em suas asinhas mirradas espero que tenha havido saudade. 
Flutuo e ainda espero enquanto ele voa vaidoso de mim. Verso cá por essas linhas sobre finalmente ter tido o que tanto faltava, comemoro nesse memorando de passagem a presença da completa ausência que ficou. O que me faz cidadã distinta pois ausência que fica é responsável diferentemente da ausência que vai. 
O nada sorri e retorce seu ultimo véu de sabedoria sobre mim, prescrevendo final feliz para o eterno instante do meu ultimo suspiro, pois se meu coração foi embora para que eu não sinta dor é para que eu simplesmente morra. Em paz.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Acho que fiz as pazes com o mundo...


Esse texto foi um presente feito sob medida por minha terapeuta Renata Brügger e utilizado terapeuticamente.
Sabiamente observada pela psicóloga, a minha expressão verbal foi inserida no texto para que ele me conduzisse protegidamente ao mundo maravilhoso que existe do lado de dentro.
Obrigada Renatinha :)

Acho que fiz as pazes com o mundo - Disse aquela moça com ar de cansada. Fiz as pazes com as coisas que mais me atormentavam. Elas continuam por aí, por aqui, fora e dentro de mim, mas resolvi fazer as pazes com elas. Coitadas, não sabem fazer outra coisa de sua não-vida. Fiquei com dó. Aí fiz as pazes. Dizem que pena é algo ruim de se sentir, mas a pena do ruim me fez querer fazer as pazes, então acho que não é tão ruim assim. Não foi só pena, claro. Acho que fiz as pazes porque lá no fundo essas coisas não me atormentam tanto assim. Monstros existem mesmo em histórias infantis, porque as crianças tem muita força na imaginação. Os adultos também, mas não sabem disso. Mas as crianças ...elas são capazes de visualizar um grande bicho de três metros de altura e cinco cabeças cabeças em baixo de suas camas! E eu cansei de ver coisas que não existem. Fiz as pazes com as coisas que não existem. Elas continuam por aí, por aqui, fora e dentro de mim. Coitadas, não sabem fazer outra coisa de sua não-vida, que não seja não-existir. Fiquei com dó. Achei, inclusive, especialmente engraçado. Puxa, o quão engraçado são essas coisas todas que nos atormentam e não existem e não sabem fazer outra coisa de suas não-vidas. Parece até que ganhei varinha de condão ou um grande cajado mágico. Bem, se é pra inventar é melhor um grande cajado mágico, varinha de condão são para fadas idiotas. Eu prefiro um grande cajado de um grande bruxo mago e barbudo, que tenha me presenteado com ele, porque sou muito especial. Mas enfim, o cajado mágico era pra transformar esses dragões todos em míseros ratinhos. E eu não tenho medo de ratos! Mas acho que seria mais higiênico transformá-los em coelhinhos. E mais engraçado também. Imagina só transformar aquele forte dragão, com suas asas magníficas, dentes afiadíssimos, fogo pelas ventas, tão assustador! Em um coelhinho fofinho. Ah, sacanagem! Nem dá dó, tenho pena não, com meu cajado mágico, vai todo mundo virar coelhinhos fofinhos que pulam felizes e trazem ovinhos de chocolate. É melhor mesmo coelhos do que ratos, mesmo que ratos não me assustem. Já fiz as pazes com os ratos, também com os dragões e os coelhos. Eles podem continuar como são, acho mais simples transformar meu próprio coração, sabe, acho que talvez em um coelho. Ou quem sabe um dragão. Me desculpem os ratos, mas nem penso em transformar meu coração em um deles, eles são nojentos e eu simplesmente não vou fazer isso. Nada contra, paz e amor, vocês aí e eu aqui. Espero que façam as pazes comigo também. Coelho e dragão. Acho que não preciso tanto, nem tão pouco. Vou ficar com meu coração mesmo, está de bom tamanho. Mas talvez eu compre um coelho. É um bom animal pra se ter por perto, além disso ele sempre me faria lembrar de todas as coisas que me atormentavam e não existiam e que eu transformei em um coelho! Ele sempre me faria dar risada, seria ótimo! Terei um coelho, sim, sim! Ah, e o dragão? Bom, eu sempre posso imaginá-lo de vez em quando, forte, veloz, poderoso... se transformando em um coelhinho branco que adora pular, pular, pular... sacanagem!  Acho que fiz as pazes com o mundo. O mundo, sabe? Meu coelhinho de estimação.

Renata Brügger (Psicóloga - CRP: 03/8450) 
79 9964-8414  - renatabrugger@gmail.com