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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

a dor do ar






 Final da noite, as estrelas não caíram
Ainda estão coladas no céu, em seu parquinho de diversões
E pra elas que ainda brilham de mansinho, um suor, um suspiro
Não amo a vida, apenas movo e danço um espetáculo saturnino
E a solidão é tão cheia de nomes e verbos, como pode ser tão só se expõe tanto minhas carnes?
Quem dará veto a terrível crime? Quem dará chão aos meus pés? bobagens, sigo enxugando a lágrima alheia
É tão cheia de mim minha tristeza que a abraço e ando
Nasci do temível ovo primordial que deu origem às galáxias, mas ainda não sei meu nome
Meu Lar é esse aperto no peito, minha infeliz aceitação
Inexato coração, sinto a dor de doar
Atordoada, doei uma asa à mãe e roguei ao pai feliz colheita
e da asa que me restou fiz o molde de um sorriso
As coisas que não tem nome me ferem menos
Fim de noite, fiz meu juramento
Em mim dorme a pulsação de mil universos
Tão plácidos, tão em mim, órfãos de seu criador
Mas dormem, só meus olhos é que permanecem acordados
Impotentes, meros satélites margeando a imensidão do quase
O inalcançável absurdo de achar-se plena sem saber de que

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Resposta






Eis nos sinais, nas virgulas, nos sinônimos
eis nos decassilabos, nos antônimos
nossa ânsia, nosso vômito
eis nas casas dos animais a trepar, trepadeiras ambulantes
Sem os compostos comuns à antiga arte do lexico
de que seria feita nossa santa ignorância?
Sem o cheiro da carne que clama por enlevo ou pela descida dos anjos
A carne chama, chama a chama, nas ruas, nos becos, nas lajes dos edificios
Pois a pele é o papel da alma que o sangue preenche de historia
Por veias tortas, por mãos sedentas que rasgam véus
E nós nunca sabemos seus porquês
A estultícia reside em ignorar os deuses que somos, que fui, que és
E que  jamais pedirão outra oferta
Pé descalço e calejado
nossos passos marcando as areias do universo
Cedo ou tarde saberemos, na universidade do tempo, saberemos como quem chora
Como um grande olho que olha sem ter aprendido a olhar
Como um olho que molha a terra aflita, tranqüilo, imponente, imparcial e reflexivo
Como uma grande pupila de pérola no suor da lavadeira
Como uma sereia gigante tangendo o universo com a cauda no oceano profundo, místico, invulgar...