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terça-feira, 30 de março de 2010

co (r) po vaz io



Certa tarde o calor e o enfado me perguntaram: pra que nascer?
Eu: por que isso logo no dia de sebo de sono no olho e louças sujas na pia?
O suor requentando o lençol, a pele morna
Impaciência.
Eu escrevo porque a vida é vazia
Cheia dessas pequenas atribuições nervosas e objetos descartáveis
Sorriso de vadia, canalha na esquina fumando cigarrinho
Nascer é como acordar? Não, tédio
Nascer é como morrer
Acordar é como dormir
Se escrevo é pra ter sorte
Para lembrar
Bebo pra esquecer, fumo pra arrebentar as bolhas dos átomos e me espalhar pelo ar do sangue, flutuar
Lembro das mágoas que escrevi bebendo
Esquecendo e recordando
A vista embaçada com a vida embolada
Embolia
A palavra é a vida que escrevo em meu silencio aterrador
Numa tarde quente, numa vagina fria.




3 comentários:

  1. escrever sobre a escrita é sempre tema de grandes poetas: drummond, pessoa... tenho acompanhado cada vez mais nao so o crescimento poetico como visto de longe a evoluçao de suas reflexoes de "viver"... e estou gostando. xeruu

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  2. Bem observado, Tom. Metalinguagem é recorrente nos grandes. Meta linguagem, grande pessoa! ;)

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